Cornucópia.
Culto à natureza,
Pela dádiva
Pela prosperidade concedida
À
vida, ávida
Grávida,
Dessa fertilidade feminina, pagã
Natura, antes dessa ruptura, da maçã
A tal proibida.
Prosperidade retribuída,
na oferenda simbólica da abundância servida,
no corno/
Mas levaram a abundância ficou o corno.
Foi-se. Ficou o adorno. A abundância foi-se.
Secaram as searas em meu torno. Pousei a
foice.
Foi-se a fábrica guardei o martelo, desapertei
o torno. Oiç-o
Roncar
do estômago do meu futuro onde
Escasseia o fermento e a farinha e já não
acendo o forno. Foi-se.
Sem dia de retorno. O pão foi-se. Já não oiço
O barulho feliz das crianças no baloiço.
Foi-se. Ficou o transtorno. A inocência
foi-se.
E ela vem veloz de preto sem rosto arrastando
a foice.
Mensageira da economia de palas grande que nos
deu o coice.
Mula, burra, besta, deu-me o coice. A beira do
abismo consegue dar o passo em frente
E foi-se. A esperança e de verde ficou apenas
um recibo sem isenção.
Enquanto imigra quem pode, Marcho com indignação
Numa avenida de
sentido único e sinais de proibido virar a direita,
Foi-se a liberdade
que nunca cá parou.
Foi-se a igualdade que nunca se mostrou.
Foi-se a dignidade
que nunca se expressou.
Foi-se a união que nunca se mostrou
a bandeira rasgada a meia haste deixa cair, do
seu fundo azul
Estrelas amarelas que são levadas pelas chuvas
para longe do norte
E dão à costa no mediterrâneo. Foi-se
O
sonho da comida rápida, do tempo portátil,
Da vida descartável, do saber espontâneo.
Foi-se o sonho americano, made in china,
aprovado pela UE com crédito instantâneo.
Num mapa sem essência e vago contorno.
Foi-se a abundância. Deixaram o corno.
Sr. Preto
(escrito para o booklet de chanson noir em Dezembro de 2011)
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