Pelo menos que a minha classe/ desse/
para cometer suicídio,
Mas temos tanto de nada a
perder
Que nem isso é opção/
Não/
passo laminas no pulso
Ainda que já haja pouca
razão/
P’ra cerrar o punho e
levantar a mão/
Classe moribunda só pode
pedir eutanásia de classe/
Deixa me morrer em paz/
Deixa-me rumar a Sul e Este,
em paz/
Deixa, nunca me deste,
a paz/
Mesmo que a morte p’ra ti não
preste,
é paz/
Deixa me partir para uma
nova vida em paz/
Desliga a maquina, nesta
vida respiro com assistência , quem já me matou não me deixa morrer em paz/
Homicidas da minha
classe
Dão-se ao luxo de
cometer suicídio de classe/
Sem acabar com o
Genocídio de Classe/
Etnocidio de classe/
O Sociocidio de
classe/
Reclamam-me Solidariedade
de classe/
Dizem que estamos todos no
mesmo barco
Sim, só que o barco tem
contorno de navio negreiro e eu viajo no porão
Nem sequer em 2a classe/
em classe económica ou
turística/
Viajo sem classe/
P’ra q’esta classe
Chegue a bom porto/
Nem q’eu acabe atirado ao Atlântico
ou chegue morto/
Nem que vá de alforria em inclusão,
cambaleando, torto/
Eu vejo de que classe/
sou
No aeroporto/
onde por mais passaporte
que tenha nunca tenho certeza que passe/
Pois a minha fronteira é a
cor que trago comigo,
e a cor que trago comigo
vai comigo
onde eu vou
É para ela que se olha
antes de se saber de que classe
sou/
Esta velha tem falta de
classe/
Por mais que tenha classes
em luta/
E todas essas classes em
luta/
Param e unem-se para
explorar a labuta/
da minha classe/
Eu ponho fim a esta vida
pois acredito numa vida melhor/
Sem ser a sub-classe/ da
classe/ que reclama o suicídio de classe/
da burguesia mas não me
quer na sua classe/
pois a minha libertação
seria o homicídio da sua classe/
Cujo padrão de vida vem do
genocídio da minha classe/
Mas essa classe nasceu
matando a minha/ atando a minha/
aos seus campos de café,
açúcar, cacau e algodão/
essa classe que acumulou
capital com o lucro do meu sangue e suor,
da minha vida,
Essa classe que se tornou
trabalhadora sem meios de produção/
que encontrou lugar na
fabrica que transformou a matéria prima extraída/ com o meu sangue e suor/ a
minha vida/
Fiquem com a minha vida/
o meu sangue, corpo, o vosso
capital/
material/
Desmaterializado vou para
ESTE, SUL, sem sinal, vital/
Vitalizado por não ser mais
fracção do teu total/ classe/
Vou para onde ainda não
sabes tirar partido, e daqui ficaras em impasse/
Vou sem passaporte, sem
passe, sem ninguém que me diga passe,
Para a minha alma,
Que não cabe no teu porão,
senzala ou prisão,
Na minha eutanásia de
classe
Onde não poderás obrigar a
viver na tua falta de classe/
Sr. Preto
Lisboa, Fevereiro 2013